OPINIÃO: Quando o espetáculo vira ruído

A estreia de um telejornal deveria ser, acima de tudo, um momento de afirmação do jornalismo: compromisso com a informação, responsabilidade pública e respeito à audiência. Mas, em tempos de hiperexposição digital, basta um vídeo fora de tom para que o foco se perca — e foi exatamente isso que aconteceu nos últimos dias. 

Um conteúdo ofensivo, protagonizado por uma figura pública de grande alcance popular, rapidamente se espalhou nas redes sociais e acabou ofuscando aquilo que deveria estar no centro da conversa: o lançamento de um novo produto jornalístico em rede nacional. O episódio escancara um problema recorrente do nosso tempo: a dificuldade de separar entretenimento, opinião pessoal e o impacto que tudo isso tem quando associado, direta ou indiretamente, a marcas de comunicação. 

Não se trata apenas de gosto, humor ou liberdade de expressão. Quando mensagens que reforçam preconceitos, ataques ou discursos de ódio ganham tração, o debate deixa de ser sobre quem falou e passa a ser sobre o ambiente que permitiu, normalizou ou relativizou esse tipo de conteúdo. E isso vale tanto para artistas quanto para empresas de mídia. 

O jornalismo, especialmente em sua versão televisiva, já enfrenta desafios enormes: credibilidade em queda, disputas narrativas nas redes sociais e a concorrência direta com conteúdos rasos, porém altamente virais. Associar sua imagem — ainda que indiretamente — a episódios que promovem intolerância ou desinformação é um risco que nenhuma redação deveria correr. 

O que deveria ser uma estreia marcada por análise, contexto e serviço ao público acabou atravessada por ruídos que nada acrescentam ao debate público. E isso diz muito sobre o momento atual: a audiência está atenta, crítica e menos disposta a separar o “personagem” do impacto real das mensagens que circulam. 

No fim das contas, fica a lição. Comunicação não é só alcance; é responsabilidade. Não basta falar alto ou viralizar. É preciso entender que toda mensagem carrega consequências — especialmente quando vem de quem sabe que será ouvido. 

O jornalismo perde quando o espetáculo ganha. E ganha quando escolhe, conscientemente, ficar do lado do público. 


Genarks Oliveira
Editor-chefe do Folha Egipciense

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