A semana foi surpreendente para Joana (nossa musa empoderada). Ela aproveitou muito bem três dias de descanso: viajou para uma cidade próxima da sua, só para ficar distante de tudo e aproveitar sua companhia. Essa fora uma promessa que tinha feito para si mesma, pois havia lido em algum lugar ser essencial fazer uma viagem sozinha. Pois é! Joana cria suas próprias regras, faz suas escolhas, mas não age sozinha, possui muitas referências que a fazem ser como é.
Uma dessas referências é Helena, uma amiga do colégio que vivia as mais loucas aventuras, sempre alegre, com agenda lotada de festas, fugas dos pais, encontros às escondidas com um “andarilho”. E Joana se viu com um sorriso largo lembrando de Helena e de umas de suas histórias.
Certo dia, mais precisamente no feriado da Semana Santa, sem aulas e sem muito o que fazer numa cidade do interior, sem telefone celular (pois sabemos que elas são mulheres 40+), com tempo de sobra para fazer NADA. Helena decide ir à casa de Joana, mas o motivo maior é arriscar a possibilidade de encontrar com o tal “andarilho”. Na ida, não obteve sucesso então, começou a convencer Joana a deixar a leitura do livro “A paixão segundo G.H”, de Clarice Lispector e sair um pouco de casa, irem tomar um sorvete em uma conveniência de um posto de gasolina que era próximo à casa de Joana.
Foram. Pediram o sorvete. Sentaram numa calçada próximo ao posto. Conversaram. Gargalharam muito, pois quando se juntavam tinham muitos diálogos aleatórios.
Já estavam voltando para casa, quando... de súbito, uma moto para perto delas. Era o “andarilho”, Helena ficou vermelha. Joana percebeu e afastou-se para que pudessem se falar. Ao sair, fingindo ajeitar-se na moto, virou-se duas vezes para olhar para Helena. Joana percebeu e disse, entre risos:
- Pensei que ias desmaiar! Nem disfarçam mais, nem parece que vivem um romance escondido. O que vai rolar?
Helena sem conter-se em si:
- Daremos um jeito de nos encontrarmos hoje. Nossa, Joana, parece que estou com febre, minhas pernas parecem não me segurar. Vamos sentar!
Era sempre assim quando eles se viam. Não conseguiam disfarçar a euforia dos corações e dos corpos.
Helena se despediu de Joana e foi para casa. Ouviu música, cantou, estava com uma energia invejável, arrumou o quarto. O dia parecia não terminar. Dormiu um pouco para acalmar a ansiedade.
E chegou o momento. Deu-se o encontro. Helena, no dia seguinte, contou tudo para Joana, com a paixão que avassalava seu coração, resumindo apenas nas palavras abaixo:
“Quero poder lembrar do quanto vivi, de como é lindo amar dessa forma, sem rótulos, sem padrão, sem prisão, com vontade de liberdade, vivendo a emoção de estar junto, de ser quem sou, de abraçar e sentir meu corpo encaixar perfeitamente no corpo dele, “andarilho”, mas sem a pressão de precisar provar nada, pois quando estamos juntos, o mundo para e só resta viver o momento. Espero que, ao chegarmos aos nossos 40 anos, possamos nos recordar de tudo isso. ”
E hoje, temos a certeza de que eles lembram com carinho, e mesmo com a maturidade que têm hoje, de vez em quando, Helena encontra com o andarilho e ainda sorriem, mas não se falam, há alguns motivos para isso. Com certeza, esse sorriso é lembrança. Joana, continua sendo o ponto de partilha para ambos e, costumeiramente, escuta “tempo bom”, “era tudo”, “ainda sinto o cheiro”, “uma noite de lua, traz tal recordação”...
Joana, em meio ao seu descanso esperado e merecido, suspira e pensa que as histórias femininas constroem tantas narrativas e que sentir, ainda é o que importa, que ser livre é muito bom, viver experiências sozinha é maravilhoso, mas que ter um chamego para apimentar seus dias com a leveza e o desejo em equilíbrio, vale muito a pena, pois precisamos viver a delícia de fazer escolhas e confeccionar memórias.
Na próxima semana, Helena será a protagonista da crônica e contará um de seus encontros com o “andarilho”. Prepare-se, pois vem uma hilária e boa história, tipo aqueles clássicos às avessas.
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