Líder no desemprego, Pernambuco mira em educação, infraestrutura e interiorização de novas para sair do topo da lista do IBGE

Para Jorge Jatobá, Pernambuco tem alto percentual de pessoas em situação de pobreza extrema e baixa inserção da população ativa na força de trabalho.

Promessa de campanha de todos os 27 governadores eleitos em 2022 e 5.570 prefeitos eleitos em 2024, a geração de empregos formais é um desafio para todos eles e suas equipes diante de um mundo onde as novas tecnologias ao mesmo tempo em que exigem mais anos de estudo para a contratação de um empregado reduzem drasticamente o número de postos de trabalho seja pela automação seja pela reconfiguração das plantas.
 
O exemplo mais perceptível é o crescimento do emprego no agronegócio brasileiro onde o crescimento exponencial da produção de grãos e proteína animal se deu acompanhando de uma redução da contratação de empregados enquanto aumentava exigência de escolaridade para operação de máquinas.

Contratações 

Os próprios números do Caged do Ministério do Trabalho mostram que as novas contratações se dão em pessoas com ensino médio completo (102.417) e com cursos superior incompleto(4.119).
 
Esse é um grande desafio para estados como Pernambuco que, estruturalmente, não tem grandes instrumentos para mudar essa condição. Seja pela dificuldade de atração de plantas industriais que gerem grande número de postos de trabalho. Seja pela dificuldade de ocupar formalmente a força de trabalho de baixa escolaridade que existiu na Zona da Mara canavieira que reduziu sua participação na economia quanto pelo número de empregos gerados no campo.


 

Líder no desemprego

Essa condição jogou Pernambuco para a primeira colocação no mapa da taxa de desocupação do país, que no segundo trimestre de 2025 chegou a 5,8%, a menor da série iniciada em 2012, enquanto Pernambuco foi a 10,4% seguido da Bahia com 9,1%. No mesmo período, Santa Catarina (2,2%), Rondônia (2,3%) e Mato Grosso (2,8%) tiveram os menores números na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) Trimestral.
 
O ex-secretário da Fazenda e pesquisador do emprego no Brasil, Jorge Jatobá, em artigo para o Jornal do Commercio nesta terça-feira (2) , analisou as causas de uma taxa de desemprego tão elevada afirmando que há várias hipóteses que não são mutuamente exclusivas. A primeira, disse, é a baixa inserção da população em idade ativa (14 anos ou mais) na força de trabalho. Ou seja: a proporção das pessoas ocupadas ou procurando ativamente trabalha em relação ao número de pessoas em idade de trabalhar.
 
A segunda, o fato de Pernambuco ainda deter um elevado percentual de pessoas em situação de pobreza extrema (9,3%, em 2023) e de apresentar alta desigualdade (segunda maior do país), com um índice de Gini de 0,523, em 2024. Pobreza, desigualdade e concentração econômica, diz Jatobá, jogam as pessoas no mercado de trabalho tornando o indicador de desemprego elevado.
 
Jorge Jatobá lembra ainda a hipótese clássica de que a educação básica compromete a formação profissional média e superior dos pernambucanos. Isso é verdade, pois interiorização das universidades federais e estaduais e instituições de ensino médio e superior locais em importantes cidades de porte médio se tornaram estratégicas. Porém ele lembra que é comum os empresários reclamarem das dificuldades de preencher postos de trabalho por causa do perfil educacional dos demandantes.
 

Sem boa formação

Pessoas com formação incompleta e inadequada engrossam a fila dos desempregados, diz o economista. E sua afirmação pode ser constatada no Caged que tem índice negativo (5.500) de contratação de pessoas com nível superior que não atende os novos requisitos do mercado.
 
O secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Guilherme Cavalcanti, reconhece o desafio e lembra que em 30 meses do governo Raquel Lyra, o Estado conseguiu gerar um saldo positivo no mesmo Caged de 140 mil empregos que ainda assim é insuficiente.
 

PNAD Contínua

Analisando os números da PNAD Contínua do IBGE, ele diz que o Governo estima em 300 mil novos postos de trabalho a necessidade de geração em empregos, ou seja, mais 160 mil até o final da atual gestão para uma inflexão no índice do IBGE.
 
E concorda com a análise de Jatobá e diz que, diante desse quadro, a missão do governo é apostar na melhoria da educação em todos os níveis, inclusive nós do Sistema S, Institutos Federais de Educação e faculdades no interior, capazes de reter trabalhadores em formação nas suas cidades.
 

Visão do governo

Como estratégia de governo, diz Cavalcanti, a proposta é investir na infraestrutura para atração de novos empreendimentos nas cidades do interior, oferecendo não só incentivos fiscais como os do Prodepe, mas três insumos básicos como estradas, água tratada e eletricidade com potencial adequado a indústrias. Sabendo que o mercado moderno já não trabalha com plantas que gerem 1.000 empregos, por exemplo.
 
Sair do topo da lista de estados com maior taxa de desocupação não será simples, diz Jatobá independente do governo de plantão. Porque ela flutua com o nível de atividade econômica, mas se situa sempre muito acima da média nacional.
 

Tempos de Suape

Não será mesmo. Historicamente, o menor número de Pernambuco é do quarto trimestre de 2013, quando registrou a sua menor taxa de desemprego (7,4%). Naquele ano, apenas a construção (liderada pelas obras no Porto de Suape) registrou um total de 353 mil pessoas ocupadas no estado. No segundo trimestre de 2025, o número foi de 267 mil, o que sinaliza uma redução de 86 mil postos (formais ou informais).
 
Guilherme Cavalcanti lembra que a estratégia de interiorização que o estado persegue - desde o boom de Suape - é um caminho lógico. “O caso mais emblemático é Vitória de Santo Antão cujas plantas da BR Food e Mondelez ancoram a ocupação de trabalhadores no município especialmente depois da duplicação da BR-232”, lembra.
 

Infraestrutura real

Estrada água e energia é fundamental no jogo hoje e será daqui para frente após a Reforma Tributária, avalia o secretário lembrando a condição de tradicional estado produtor de cana-de-açúcar (que chegou a ter 300 mil empregos na década de 70 com apenas 75 mil hoje) obriga o governo a dar condições para que esse setor mantenha esse contingente de pessoas no campo, diz o secretário.
 
Jatobá lembra que Pernambuco, assim como a Bahia (segunda maior taxa de desocupação segundo a PNAD Contínua), faz parte do Nordeste que, além de apresentar a maior taxa de desemprego entre as regiões brasileiras (9,4%) também a maior proporção (50,4%) de pessoas na informalidade. Portanto, um sério desemprego estrutural.
 

Nordeste fraco

É um quadro muito distante de estados como Santa Catarina (2,2%) , Paraná (3,8%) ou mesmo o Mato Grosso (2,80%) e Mato Grosso do Sul (2,9%) cuja estratégia de ocupação no passado é completamente diferente do Nordeste.
 
Para Cavalcanti essa diferença entre o modelo colonial e o modelo de ocupação organizada no Sul faz a diferença para estados como Pernambuco que agora precisam ocupar minimamente o interior com novas oportunidades industriais ancoradas na educação e formação profissional.
 

Depende do nacional

Mesmo sabendo que sem que a economia nacional cresça, Pernambuco e o Nordeste vão sempre freqüentar a lista de desocupação como aponta o IBGE quando as pessoas saem da inatividade para procurar ativamente trabalho o que eleva o desemprego.

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