Eu não me perdoo

Numa manhã chuvosa de domingo, Joana começa a mexer nos seus livros e encontra "Gabriela, cravo e canela", de Jorge Amado e recorda-se da primeira vez que leu esse livro e do quanto, ela, suas amigas e uma professora teceram críticas ao comportamento da protagonista da história. Sem nenhuma reflexão profunda sobre a obra, os comentários se resumiam a condenar a mulher pelo seu comportamento sexual e social.

Em meio a essa reflexão, Joana começa a recordar de tantas vezes em que fora tomada pelo meio social maxista e misógino em que viveu. Sentiu culpa! Relembrou palavras, gestos e atitudes que tomara sem imaginar que poderia mudar de ideia, de posição e de que atos passados pudessem ferir tanto ela como todas as mulheres que viveram a junventude com ela.

Joana pausou. Abriu o livro e encontrou perdido em uma página uma frase que escrevera, imaginou ela ter escrito no auge de seus dezoito anos. A frase dizia "Ontem as meninas da minha turma estavam vestidas como Gabriela - quase nuas!".

Poxa, que comentário desnecessário, carregado de preconceitos, julgamentos e um certo teor de querer parecer melhor que outras mulheres.

Joana fechou o livro e falou para si mesma:

-Não me perdoo!

Mas logo voltou atrás e percebeu que não perdoar-se é mais uma estratégia desenvolvida para que as mulheres não possam perceber o quanto são importantes nas mudanças que ocorreram para que hoje pudessem ter voz, lugar e, mesmo com muitos desafios, puderem decidir sobre tantas coisas, inclusive, perdoar-se.

Esse perdão vem com a certeza de que como mulher os pesos são injustos e as cobranças infindáveis fazem com que não notemos que mudamos, evoluimos e não podemos ter mais os discursos que tínhamos há anos e que é necessário e urgente romper com os vícios de condenação ao feminino.

Afinal, as mulheres movem o mundo e precisam refazer rotas para conquistarem os lugares que almejam.
Vamos juntas! Perdoe-se e perdoe!


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