Polo de frutas do São Francisco cita 'colapso' com tarifaço e apela a Lula

Foto: Divulgação/Valexport

O tarifaço do presidente dos EUA, Donald Trump, acertou em cheio o polo de fruticultura do Vale do São Francisco, entre os estados de Pernambuco e Bahia, que se destaca pela agricultura irrigada e produção no meio do semiárido brasileiro.

A tensão ocorre porque a entrada em vigor da taxa, em 1º de agosto, ocorre no mesmo mês em que se inicia o período de vendas de manga, principal fruta produzida no local, para os EUA —a chamada "janela americana", que vai até novembro. Em 2024, nesse período foram enviadas 34 mil toneladas do produto.

Sem acesso a esse mercado, os produtores falam em "colapso" do setor nos próximos meses. O setor gera cerca de 250 mil empregos diretos e 950 mil indiretos na região.

Carta a Lula

Na terça-feira, a Valexport (Associação dos Produtores e Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco) enviou uma carta a autoridades brasileiras e à Embaixada estadunidense alertando para os "efeitos devastadores da nova tarifa sobre as exportações brasileiras de frutas".

O documento foi entregue a Lula, que esteve em Juazeiro (BA) nesta quinta-feira. Nele, a associação cita que a região movimenta US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,7 bilhões) em exportações por ano, com destaque para a manga —fruta que tem o maior valor exportado na balança comercial do setor no país.

A nova tarifa compromete diretamente o principal canal de escoamento da produção, ou seja, mais de 50% da manga produzida no Vale entre os meses de agosto e novembro, período da principal safra, é exportada para os EUA. Estamos a menos de três semanas do início desse ciclo, e essa tarifa inviabiliza totalmente a operação logística e comercial para esse mercado, ameaçando paralisar a atividade em toda a região.

Nota da Valexport

Hoje, os EUA são o terceiro maior importador de mangas do vale, respondendo por 14% da vendas internacionais, atrás de Países Baixos e Espanha. A região do Vale do São Francisco é responsável por mais de 90% da fruta vendida para fora do Brasil.

'Colapso'

Segundo Tassio Lustoza, diretor da Valexport, não há possibilidade do mercado europeu absorver a demanda reprimida dos EUA. "Ele já vai estar operando no máximo no período da janela americana, e o mercado interno não absorve esse volume. Estamos falando de aproximadamente 50 mil toneladas", afirma.

Outra alternativa, que seriam os países asiáticos, não têm capacidade de absorver também porque são mercados muito pequenos, diz o diretor.

Segundo ele, os compradores americanos falam que, se a tarifa permanecer, só conseguiriam absorver no máximo 30% do volume total que era previsto. "A verdade é que o não envio da fruta para os EUA poderá gerar um colapso na atividade da nossa região", completa.

Produção exportada de manga no Vale por ano:

2024 - 258.305 toneladas
2023 - 243.226
2022 - 272.560
2021 - 231.364
2020 - 266.098

Valor faturado com a exportação de manga :

2024 - US$ 350 milhões
2023 - 314 milhões
2022 - 205 milhões
2021 - 248 milhões
2020 - 246 milhões

Segundo João Ricardo Lima, Pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), explica que o Vale do São Francisco tem uma situação distinta dentro do semiárido brasileiro. "Com a irrigação e muita tecnologia, a fruticultura —que demanda muito emprego— se desenvolveu e ajudou no crescimento da região. Hoje as uvas ocupam cerca de 16 mil hectares, e manga, quase 60 mil", diz.

Ele diz que se as mangas não forem vendidas aos EUA, haverá um problema em cadeia que mexerá, inclusive, no mercado interno, reduzindo a lucratividade de muitos produtores e exportadores.

"As exportações são importantes pois tiram um excedente de volume que, se ficam no mercado interno, derrubam os preços. Além do que, as frutas exportadas têm um padrão mais alto e, assim, os preços delas são mais altos. E é por isso que se tem o problema agora.", João Ricardo Lima

Sobre o polo

O Vale do São Francisco está no semiárido entre Bahia e Pernambuco e conta com área de mais de 360 mil hectares irrigáveis. Hoje, a área de cultivo irrigado tem 130 mil hectares, com predominância de frutas, cana-de-açúcar, tomate, cebola e demais hortaliças.

Na fruticultura, as principais produção são de: uva, manga, banana, coco, goiaba, melão, acerola, limão, maracujá, papaia e pinha. O volume de frutas produzido na região chega a 1 milhão de toneladas/ano.


Fonte: Uol

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