Por Mais Teresa’s...

Tem dias que surge um nó na garganta, uma vontade de libertar medos e angústias – uma sessão de terapia comigo mesma, mas nem sempre essa liberdade é possível. Às vezes, aliás muitas vezes, precisamos deixar os nós amarrados e seguirmos encontrando cordas mais livres e escrevendo... Vamos lá!

O texto de hoje traz o relato de uma mulher, Teresa. Não sei se Tereza ou Tereza, mas quero usar o S para ilustrar curvas sinuosas de uma conversa que ela teve com um motorista de aplicativo. 

Teresa, depois de um dia exaustivo só queria chegar em casa o quanto antes e repousar seus pensamentos e acalmar seus sentimentos que a confundiam severamente, resolve pedir um carro por aplicativo e eis que ela conhece Jorge. 

Como de costume, entra apressada no carro e não inicia nenhuma conversa, principalmente nessa sexta sem fim. Mas Jorge resolve contar sua vida para ela. De repente, ela se ver ouvindo quase um monólogo. Jorge puxou assunto, apresentou-se como motorista executivo – acho que para ser mais chique ou parecer mais elegante do que ser um motorista de Uber, não sei. Pois bem, em menos de vinte minutos de viagem, Teresa ouviu Jorge contar que era engenheiro civil, decepcionado com a CLT, motivado a ingressar no curso de Direito e estudar para concurso. Em um momento, ele tira de uma bolsa um tablet e diz que continua fazendo trabalhos de engenharia em home office, mas dentro de um carro bom, confortável, faz dele seu escritório e reforça que isso começou durante a pandemia que abriu esse leque na vida profissional de muitos – não precisar de escritório. Jorge contou que havia terminado um relacionamento de dez anos, pois “a pandemia ou juntou ou separou”, com uma médica que, por estar na linha de frente na pandemia adquiriu, segundo ele, manias difíceis de suportar: higienização excessiva, certo exagero quando se falava em proteção, distanciamento. Ele relatou que certa vez fez um jantar e que ela, ao chegar em casa, foi direto tomar banho, não o cumprimentou com nenhum toque, voltou, como ele relatou “cheirosa, linda, maravilhosa”, mas que disse sentir-se suja e voltou para banhar-se mais uma vez. Nesse instante, ele iniciou uma discussão sobre a esposa procurar ajuda psicológica e/ou psiquiátrica, pois estava difícil conviver com ela. Ela não aceitou e começou uma briga que provocou um silêncio de mais de uma semana entre os dois.

Dias depois, trabalhando em home office, decide passar uns dias na casa dos pais e ouve (de acordo com ele) que se ele fosse não precisaria mais voltar. E ele, naturalmente conta que assim fez. Não voltou. Jorge diz vitoriosamente que não se envolveu com drogas, não exagerou no álcool, nem caiu na p***ria, como presenciou acontecer com muitos amigos que se separaram.

Jorge continuou falando suas inúmeras qualidades, bem posicionado socialmente, financeiramente estável, livre de cobranças conjugais. Um solteiro vivendo a solteirice, morando na casa dos pais. 

Teresa então pergunta se eles tiveram filhos e ouve: “Graças a Deus, não!”. 

Nesse instante, Teresa se pergunta se aquele homem que vomita autoelogios, que sabe o que quer, que preza pela liberdade, soube valorizar a mulher que esteve ao lado dele. Ele foi atencioso com ela o quanto foi atento com o esboço de suas qualidades?

Certamente, faltou muito a ser dito. Afinal, há um apagamento normalizado do papel do homem na separação, na decisão de dissolver uma união. Os pesos são diferentes, os sentimentos são diferentes e a aceitação é diferente. 

Teresa sentiu vontade de ouvir a versão daquela mulher que fora citada por quase trinta minutos sem direito a defesa, a colocar suas razões e, quem sabe, relatar tudo muito diferente. Afinal, Jorge afirmou que passados dois anos da separação ela ligou para ele pedindo perdão por não ter aceitado que precisava de tratamento e que, naquele momento, tinha entendido que precisava de cura, que estava indo ao psiquiatra e que queria uma chance.

O que Jorge fez? Pasmem! Não é surpresa.

Jorge disse que não a queria mais, que estava vivendo uma vida boa, livre de cobranças. 

E aí? O que resta? O que pensar de Jorge?

Ah, o nome da esposa não foi mencionado por ele nenhuma vez, mas ele disse, também, que ela não atendia mais aos seus desejos sexuais... Algo bem comum nas reclamações masculinas quando há problema de relacionamento.

Teresa sentiu alívio quando o aplicativo informou o desembarque. Queria se livrar daquela toxidade perfeita, daquele homem maravilhosamente cretino. 

Teresa, já em casa, sorriu... que bom é poder não se comover com os traços narcisista daquele cara que estampa o rosto de muitos dos homens que pintam por aí. Respirou aliviada ou lembrar que, antes de descer do carro, perguntou para Jorge:

- O que você pensa sobre o que sua ex-companheira pensa de você? Ela deve ter uma lista imensa de reclamações, mas que, com certeza, superou e não conta a história para ninguém, pois MULHER quando esquece, ESQUECE.

Sem dúvida, Jorge sentiu que não convenceu Teresa. É a mudança feminina em alta (kkkkkkkkkkkk).
Por mais Teresa’s que defendem outras mulheres e entendem que a história de uma é a história de tantas outras.

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