Urgência de Ser e Saber o que É

A crônica da semana passada trouxe a personagem Joana como centro. Uma mulher livre e empoderada que conhece uma pessoa e decide se entregar a um relacionamento que já dura quatro anos.
 
Bastou chegar ao final da crônica para que muitas amigas minhas enviassem mensagens do tipo: “ Esperava mais de Joana!”; “Como assim Joana entregar-se a um relacionamento?”; “Imaginei que Joana tivesse aprendido a viver sozinha.”; “Não gostei! Uma mulher cheia de qualidades como você escrever uma crônica com uma mulher livre que se rende ao amor?”.
 
Pois é! Parece que meu intuito foi atingido: as mulheres entenderam o valor de uma mulher que se conhece, empoderada, livre, com vivências incríveis. Mas por que essa mulher não pode se apaixonar? Em que momento da crônica apareceu que esse relacionamento a diminuía?
 
Me incomoda esse discurso de “mulheres contra homens”. Parece um caminhar muito solitário, de uma bandeira feminista que exclui, que aposta no duelo, que traz como certo a impossibilidade de existir uma mulher que, mesmo forte e decidida, possa ser amada por um homem. A questão está em saber quem somos, unir forças masculinas e femininas para que as mulheres possam vencer o machismo. É também sobre libertar os homens desse machismo, deixando-os perceberem que podem ser sensíveis, defensores das causas femininas. A ideia é juntar e não separar.
 
Para que Joana pudesse AMAR, ser amada e respeitada ela precisou empoderar-se, viver sentimentos que a construíram como MULHER. Essa mulher que se reconhece como fêmea, com seu feminino solidificado não admite que outra pessoa entre em sua vida sem que possa somar: dias felizes, dias não tão bons, dias horríveis. Afinal, a vida é assim, um sobe e desce de expectativas, de conquistas e perdas, como disse Guimarães Rosa "O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem". E coragem não falta à mulheres.

Não estou excluindo as dificuldades que são enfrentadas pelas mulheres numa sociedade patriarcal, que tem a mulher como figura submissa ao homem, seja pai, irmão, companheiro, chefe. Estou dizendo que precisamos lidar com os desafios de educar homens e mulheres para vencer obstáculos que são inerentes a todos. Uma mulher que sofre faz sofrer muitas outras e muitos outros. Um homem que agride machuca muitos outros e outras.
 
Trata-se de escolher onde e com quem queremos estar. Não permanecer em relacionamento em que precisamos nos esforçar para cabermos. Não se demorar em ciclos dolorosos, pois o tempo é urgente e a vida precisa ser vivida. Isso é praxe!
 
Precisamos agir para que uma mulher livre não seja chamada de “#u#a”, de “velha”, de “gorda”, “sem sal”. Não podemos negligenciar as “pequenas violências" que escancaram um machismo que, muitas vezes, é praticado, também, por mulheres.
 
Isso não! Isso não podemos mais admitir, não podemos praticar. Chega de punirmos umas às outras! Chega de diminuirmos outras mulheres quando podemos escancarar o quanto PODEROSAS são.
 
E, assim como Joana, podemos sim, viver histórias amorosas lindas, construídas com base no respeito (sejam relações heterossexuais ou homoafetivas). Mas se notarmos que elas podem nos machucar é preciso que entendamos que temos escolhas. Isso chama-se SER e ter coragem para assumir-se como É.
 
Vamos seguir empoderando muitas mulheres, mas sem guerra entre sexos, pois é na junção que ampliaremos os resultados que estamos conquistando, com a urgência que cabe ao momento de ser e saber quem somos.




Poste um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem